sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

CANINOS POR UM MUNDO MELHOR!

Antes de mais nada, espero que meus primos e irmãos queridos compreendam que o que expressarei abaixo não é nenhuma tentativa de diminuí-los ante os humanos, nem de fazer revolução social, é apenas uma tentativa de abrir os olhos dos nossos primos “bípedes-de-telencéfalo-super-desenvolvido-e-com-polegares-opositores” para o quanto eles tem sido injustos com os da sua espécie e o quanto essa injustiça é responsável pelo mal estar de todos nós, caninos e não-caninos. Ressalvas feitas, vamos ao que interessa:
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Dia desses, por mera curiosidade, abri a “Revista do Correio” que estampava em sua capa a manchete “Virgens com orgulho”. Qual não foi a minha surpresa ao encontrar, logo após tão construtiva matéria (sem nenhuma ironia aqui, já que, num mundo ameaçado pela AIDS e tantas outras DST’s, sem falar da superpopulação por humanos, responsabilidade sexual é uma coisa que merece grande atenção) uma outra entitulada: “Vida de Cão”, e que estampava a foto de uma bela cachorrinha e outra do seu garboso irmão, ambos adornados com coleiras de ouro com detalhes em pedras semipreciosas (que custam por volta de 200 dólares!). Lendo a reportagem fiquei sabendo que eles eram avessos à perfumaria canina e que gostavam mesmo era de perfumes franceses que chegam a custar R$ 600,00 o frasco. Tomei conhecimento, também, de um “Husky” que, não obstante nadar com seus humanos na piscina deles, tem uma privativa para si. Isso sem mencionar as pomposas festas de aniversário que alguns primos mais ricos e famosos costumam oferecer na casa de seus humanos!

Lia e pensava o quanto eles não devem ser felizes sendo tão ricos, tão mimados pelos seus humanos. Imaginava o quanto seria bom andar bonito e cheiroso pelas ruas, atraindo tantas e tantas cadelinhas! Mas a medida em que sonhava com isso, começa a pensar nos seguranças que meus humanos precisariam contratar para me acompanhar nos passeios, e nos grandes muros e muitas grades que teriam que colocar em nossa casa nos proteger de toda essa criminalidade que assola as nossas vidas. No fim, eu acabaria cheio de presentes e riquezas, mas trancafiado em casa, sem poder sair para curtir a vida e conhecer outros seres e lugares. De que me serviria tudo isso, então? De que adianta ter tantas coisas bonitas e perfumes cheirosos se jamais poderei usá-los nos meus passeios pelas ruas e pelo parque, ou melhor, se nem tais passeios poderei fazer por medo de ser seqüestrado, ou mesmo “caçado” para ser transformado em alguma “iguaria chinesa”?

A medida que pensava sobre o assunto, que tentava entender porque existem todas essas ameaças, lembrava dos milhões de famintos que existem no mundo: cães, gatos e até humanos! É tão comum ouvir sobre os milhões que vivem com menos de 1 dólar por dia! É comum também ler nos jornais sobre aqueles que roubam pelo desespero da fome. Além da ameaça direta desse “exército de marginalizados” à nossa vida de prazeres e felicidade, me sinto também moralmente culpado de saber que, enquanto durmo numa almofada de seda, tantos outros não tem nem com que se proteger do frio! Como posso ser feliz assim? Oprimido pela fome, pelo frio e pela dor dos meus semelhantes caninos, felinos e humanos? A minha simplória gravatinha começou a pesar na garganta, minha almofada de seda deixou de ser tão confortável, e minha felicidade foi substituída por um grande vazio! Como posso ser feliz se a cada passo na rua sou lembrado que a miséria existe? É impossível não ver, é cruel não se comover, e é impensável ser feliz com tanta tristeza à nossa volta. Por melhores que sejam as nossas condições hoje, a miséria à nossa volta estará sempre ali – na forma de pedintes, desabrigados, famintos, desnutridos... – para manchar a nossa felicidade com o seu sofrimento, para atormentar a nossa paz com o medo de que eles se voltem contra nós. É preciso fazer algo! E já que nossos humanos permanecem atordoados e inativos frente a tudo isso, cabe a nós, mais uma vez, mostrar-lhes o caminho, e é com esse intuito que convoco a todos os demais animais a aderir à campanha:

“TROQUE SUA COLEIRA POR UMA CRIANÇA POBRE!”